terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Lavínia


Ok, era natal, ia pedí-lo. Chegou em casa direto pro banho. Lavínia... achava seu próprio nome estranho, lembrava lavanda, lavar, sempre se lavando... de certa forma estava sempre se lavando de dentro pra fora, tantas lágrimas ultimamente. Aquele vazio de sempre, ainda que o lado esquerdo da cama estivesse preenchido. 

Ele estava lá dormindo, como sempre. Lavínia fez algo pra comer, ia fazer somente algo, mas achou que a ocasião merecia algo mais: parafuso ao molho de atum. Nada de mais, trivial, mas ela adorava, sabia que ele ia gostar. Ele sentou, comeu, disse que tava bom, foi pro sofá ver TV. Quando ela se aproximou, depois de ter lavado tudo, sem ajuda, sexo. Ela estava com certa dor de cabeça meio que por fora, tinha batido em algum lugar que não lembrava. Disse isso com jeitinho, mas cedeu aos puxões de cabelo dele, aquela coisa selvagem que ela simplesmente não queria no momento. Resguardou-se, exagerou aqui e ali, ele achou que estava tudo bem. Mas não estava. 

No dia seguinte, lavínia não levantou cedo, queria dormir até mais tarde, mas ele levantou brusco, começou a se vestir.

- Onde vc vai?

- Tenho que trabalhar, né!

- Fica! namora comigo... - ela tinha perdido a coragem na noite anterior, mas soltou a frase sem pensar muito nessa manhã seguinte.

Ele riu... riu, riu alto. Mas quando olhou pra ela e viu que era sério, parou. 

- Cê tá de brincadeira, né?

Aquele né contínuo dele pela primeira vez a irritou. Quando o havia conhecido, todo mundo dizia que era a amrca registrada dele, aquele né chato. Mas Lavínia nem reparou, gostou, gostou de tudo, foi levando, mas já era hora de... ir pro próximo passo, que podia ser tanto o adeus como o vamos juntos.

Tocava Chop Suey. Depois da pergunta dele, ela abaixou o som e disse, ainda mais séria:

- Não... Adeus.

- Adeus. - ele disse, como se fosse um simples tchau, até logo. Ambos sabiam que não, mas ele não se abalara nem um pouco.depois emendou um  - Tudo bem, a gente se vê, gata.

Aquele "gata" soou tão imaturo e impessoal... Lavínia morreu de ódio. Quando ele saiu, jogou o copo de uísque na porta, com o líquido e tudo, esquecido por ele há uma semana e dois dias, cinco horas, segundo ela contara. Sempre contava tudo, provável vítima de TOC.

Chorou uma vida aquele diz, 24 de dezembro. Estranho, era um choro estranho, chorava porque o momento pedia, os olhos pediam, mas o coração estava leve, aliviado, laviniado. Pensou na palavra e sorriu em meio às lágrimas. Nem lembrou que a mãe vinha, as irmãs, todo mundo pra levá-la pra casa... chegaram logo, e dessa vez ela não quis esconder nada. O apoio veio instantâneo. Até mesmo do pai, com quem não etsava falando ultimamente, e nem se lembrava por quê. Nem importava mais, todos os abraços valeram o chegar ali, o ser quem era. Lavou a alma e estava pronta para o ano novo na praia, onde fosse. Não precisava decidir agora, estava em casa. Não precisava pensar em nada agora, só deixar tudo fluir, passar a dor e recomeçar. Era isso. Lavínia.