sábado, 16 de fevereiro de 2013

Justine


Sonhei que cotava a garganta de todos os meus amantes. Era como se eu estivesse andando na rua e, ao encontrar algum, ao invés de cumprimentar-lhe, eu lhe cortava a garganta, como se fosse um "oi", coisa banal. Covardes, eles. Tinham namoradas, se diziam bi. Mas que droga, era essa a desculpa pra não me assumir, pra não nos assumirmos, porque eu já tinha saído do armário, como se diz. Não gosto dessa expressão, não sei de onde vem. Porque sair do armário?? Sei lá, só sei que me assumi. Eu cortava a garganta deles e em muitos, eu cortava o bilau mesmo, e ainda fazia uma racha, como que querendo transformá-los em mulher. Porque ser mulher é a pior coisa, é um jugo e uma benção, é vida e morte, é desprezo e exaltação a vida toda. Não o ser mulher em si, mas o ser corpo de mulher. Salvei-me disso, mas talvez eu esteja em situação um pouco mais bittersweet: mulher presa em corpo de homem. Entendo a condição de mulher e gosto de me fantasiar de uma. Faço shows, com nome fictício, é claro: Justine, com sotaque francês. desde que aprendi tal língua, adotei o nome. Já fiz programa, mas não é pra mim. Sou romântica. Romântico. Não sou meu irmão.

Ele é um brilhante pianista, eu seria se não tivesse saído do seio de minha família. Ele é como eu, somos gêmeos. Mas vestiu a carapuça social, que todo mundo pede. Casou. Se matou semana passada e meus pais se dignaram a me avisar por email. Fui ao enterro. Soibe por uma prima, que é quase irmã, que meu irmão cortou o próprio p* e fez um risco no meio. Morreu de hemorragia. Isso só o núcleo da família sabe, e eu lamento pelo mano. Ele realmente se sentia uma mulher. Com o tempo, eu também me conformei, sou homem, me travisto. Meu irmão se casou, teve filhos. Não aguentou depois de um tempo. A pressão social acaba com a gente. Ah, meu sonho, foi uma prévia. meu irmão. Lamento. Chorei no velório, fui à carater mas sem tirar meu brilhante da orelha. Mano, mano. Não, eu não vou ser asssim, mas também não quero caçar confusão, subverter coisas, encabeçar uma guerra, sinceramente, quero paz e viver, só. 

Tenho a alma feminina mas preferi não assumir totalmente Justine. O sonho? Ah, talvez eu tenha a vontade do meu irmão, mas não vou como ele abrir mão de amar quem eu amo realmente. Só devo confessar que... Justine é lésbica.